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Em sentido contrário aos ponteiros do relógio

Começo esta biografia por me defender. Passados que estão 59 anos, continuo a não gostar de falar de mim. Característica dos tímidos que decidi enfrentar quando me inscrevi em 2018 num grupo de teatro para assumir o papel de Oberon, rei dos elfos, na peça “Sonho de uma Noite de Verão”:  
- “Tive uma visão das mais estranhas. Foi um sonho, mas um sonho que não há entendimento humano, capaz de dizer o que era. Vou contar tal e qual como se passou”.

Perceber o comportamento humano, fora dos sonhos, foi o que me fez seguir, aos 49 anos, a licenciatura em Psicologia Social. Percebi que o cérebro é o estudo que mais estimula a minha curiosidade.

- “Argumentes o que argumentares não vale a pena porque estarei sempre do lado dos mais fracos” – nunca esqueci esta frase que a minha filha mais velha me disse. Lembrei, na altura, em como as nossas espectativas se podem situar no “deserto do real”. Tirei o curso de Direito aos 39 anos e, após longa teimosia e interlúdios judiciais, aprendi que a justiça não é cega e abandonei definitivamente a companhia.

Tenho 3 filhos de gerações diferentes. A mais velha nasceu na altura em que era militar, o do meio quando trabalhava no Banco Português do Atlântico e a mais nova quando estava no Banco BPI. Trabalhei 33 anos na banca, 22 dos quais como gerente, responsabilidade em que, quase sempre, não era possível estar do lado dos mais fracos.

Ainda não se falava em Formação ao Longo da Vida mas isso não impediu que aos 29 anos frequentasse uma qualificação de Nível 4 da CEE na área da Gestão de Empresas com o sentido de adquirir competências para entender melhor a forma como o capitalismo lida com estas coisas do mercado e do risco. Não aprendi nada sobre desigualdades mas senti o incómodo da desequilibrada afetação dos recursos.

A vida militar fez-me a transição da condição de estudante para o sério.

Ficou ali a servir de porta de balanço entre a juventude e o estado adulto. Aqui aprendi a definição de lealdade e ficou-me o da superação.

Valores que sucederam a minha primeira paixão de vida. A química do carbono. Aos 19 anos percebi como as paixões cegam depois de ter ficado á porta do ensino superior por causa disso.

Todos temos memórias de caminhos. Porque a minha fica sempre perdida no tempo não me lembro do primeiro dia na escola primária em Alenquer mas o caminho, esse, ainda é o mesmo.

Foi naquela vila que nasci no dia 26 de Setembro de 1962.

  

Considero-me uma pessoa extrovertida que precisa e gosta de momentos eremíticos. É por isso que me recolho pelo prazer de ouvir musica ou saio para correr ou caminhar na natureza. Recordo da minha mãe se preocupar com esta necessidade de recolhimento – “filho, tu não estás bem” - dizia-me.

Gosto de ficar com o que de bom acontece e de aprender com o que corre mal. É o momento que me absorve seja ele na individualidade ou em grupo. Talvez por isso gosto de fotografar.

O facto de ser filho único trouxe-me uma maior capacidade de autonomia e de tomada de decisão mas também uma centralidade egoísta que tenho vindo a conseguir reduzir pela dimensão que o “outro” tem ocupado na minha vida.

Ao concluir o curso de formação de formadores, disseram-me: “Carlos, já pensou em fazer voluntariado”. Não soube onde foram buscar aquilo mas, como gosto de desafios, fui. A experiência acumulada nesses projetos fez-me descobrir o gosto pela partilha de conhecimento e o quanto posso aprender.

“O que importa não é o que acontece, mas como você reage” – Epicteto

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